sábado, 18 de julho de 2009


peguei o post inteiro do blog "instante posterior" do Hermano Bruno Medina.

Já não é novidade para ninguém que os números de venda de CDs, ano após ano, só fazem despencar em todo o mundo e que, assim sendo, estaríamos testemunhando estes que seriam os últimos suspiros da música atrelada ao formato físico. Embora ainda se identifique entre as gravadoras a intenção de estender ao máximo o modelo de consumo que vigorou por tantas décadas, o fato é que qualquer solução que derive desta mesma raiz (música distribuída em pen drives, disco semimetálico, cartões slotmusic, etc.) parece já surgir fadada ao fracasso.

Escrevo isto enquanto me envolvo na tentativa de recuperar um mastodôntico CD-Carrossel, que devido à absoluta falta de uso parou de funcionar. Claro que não deve ter ajudado muito quando meu cachorro, ainda filhote, elegeu o tocador de disquinhos como território a ser demarcado, mas o real propósito em mencioná-lo é atestar o quão obsoleto aparelhos como este se tornaram.

Removendo a poeira de seus há muito intocados botões, me lembrava de quando – lá pelo início dos anos 90 – botei pela primeira vez os olhos num provável avô dele. Na ocasião pensei que ouvir três discos inteiros sem precisar se mexer representava, para os amantes da música, uma revolução comparável à invenção do fósforo.

Também pudera, na época do vinil o máximo de relaxamento que se conseguia atingir era o propiciado pela execução de cinco os seis músicas consecutivas; depois disto o sujeito invariavelmente precisava levantar do sofá para trocar a bolacha de lado, podendo ou não aproveitar o ensejo para ir ao banheiro ou preparar um sanduíche na cozinha.

Como não existiam meios de evitar que a audição dos discos fosse interrompida de maneira abrupta, o intervalo que a tarefa demandava passou a ser considerado por muitos como forma de expressão. Ramificar as possibilidades estéticas do conjunto de faixas contidas nos álbuns adicionou um significado extra ao Lado B, fazendo com que a expressão mais tarde extrapolasse inclusive os limites do universo musical, para se tornar sinônimo do que não está no centro das atenções.

Atendo-se aos registros fonográficos, a simples ideia de haver se estabelecido um espaço reservado ao experimentalismo, à introspecção ou mesmo à desobrigação de emplacar mais um hit, foi fundamental para a história da música na segunda metade do século XX. Logo começou-se a notar que as primeiras canções do lado B não raro coincidiam com os momentos mais inspirados, ousados e criativos dos bons LP, levando muita gente a iniciar o contato com seus artistas prediletos justo por ali. Passou-se, então, a dizer que as músicas do lado A eram para as rádios, e as do lado B, para os verdadeiros fãs.

Na era do CD a distinção continuou existindo, no entanto de maneira bem mais discreta. Seguindo a tendência natural, é razoável concluir que a extinção do formato físico determinará também o fim desta maneira de se pensar um coletivo de músicas. Mais ainda, evidencia a aterradora realidade de que o próprio conceito de álbum está com os dias contados.

Esta semana tive em mãos o ipod de um rapaz de quinze anos e me chamou a atenção como ele não possui mais do que oito ou dez músicas de nenhum artista. São milhares de títulos que se amontoam e se confundem, uma sucessão ilógica de hits radiofônicos.

Se esta maneira de comercializar faixas avulsas se tornar padrão – e tudo indica que irá – estaremos fadados, num futuro não muito distante, a conviver com uma saraivada de artistas que enxergarão um lançamento como quatorze tentativas individuais de se atingir a fama, se é que isto já não está acontecendo. Saudosos lados B, abstratos, misteriosos, despretensiosos, corajosos e instigantes. Saudosos os dias em que carreiras eram construídas passo a passo, e que o sucesso era a consequência, e não a causa.

Falando nisso, que tal relembrar os “lados B” mais antológicos de todos os tempos?
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