Contos Suburbandos parte5 - A Pessoa Nasce Pro Que É!

A Lua de mel em Caldas Novas era pra coroar a união do casal, mas Anselmo se apresenta como uma figura extremamente insegura! Ir pra piscina já era motivo pra implicar com o tamanho do biquini, com o rebolado, qualquer movimento vira motivo pra causar confusão, pra imaginar coisas, ele provoca situações de constrangimento. A noite só piorava, nos bares e boates ele ficava observando quem olhava Iolanda, pra quem ela olhava, reclamava dos decotes, da maquiagem, do jeito de sorrir, de andar e de dançar.
A princípio ela achava que era superproteção, esse ciúme todo era sintoma do que ele sentia de bom, mas as brigas foram intensificando, ficando cada vez mais frequentes e mais agressivas, ele começou a indagar o passado, jogar na cara que era uma ex prostituta, que agora tinha um dono que pagava por seus luxos e caprichos e que não confiava em uma mulher que havia conhecido tantos homens!
Na segunda semana já não havia mais respeito algum, numa noite de bebedeira e troca de ofensas ele partiu pra cima dela. As imagens do padrasto reaparecem na cabeça de Iolanda, ela se debate, tem uma repulsa e grita por socorro. Anselmo tapa a boca dela, agride violentamente comete o pior dos atos, estupra Iolanda!

Enquanto consumava o ato repugnante, Iolanda apavorada via flashes de tudo de ruim que já havia lhe acontecido! Do padrasto canalha, da mãe tirana, do caminhoneiro aproveitador, dos patrões que sugaram seu suor, seu sangue, sua juventude, suas oportunidades, dos cafetões e clientes que a diminuiram como mulher, como ser humano. Mas nada doía mais que a covardia de Anselmo. Pela dedicação, pelas noites mal dormidas, pela espera, por acreditar no amor, por salvar ele da pior, pois ainda estaria preso e falido. Agora era um monstro arrogante que ela arrepende amargamente de ter cruzado o caminho um dia!

Ela não dá queixa do agressor. Ele agora ronca como um porco, ela está muito machucada, tremendo, aproveita o sono profundo do bêbado e sai do hotel sem levar uma peça de roupa, pega um taxi e volta pra Goiânia.     
Vem chorando por toda estrada, pensando no que a vida fez com ela e o que ela vai fazer da vida. Sorte ter guardado algum dinheiro, some por uns dias, depois reaparece no marrom gracê de cabelos curtos, pintados de louro, maquiagem carregada e olhos amargos, porém decididos.
  Ney e Márcio ficam chocados, ela diz que está voltando pra função mas que Iolanda não existe mais!
Ali na frente deles estava Debbie, a mais vadia de todas as putas! Que Renata perto dela era um anjo. Agora agia como um personagem da vida real, tinha se reinventado, assumido sua condição, não havia mais sonhos, não havia mais ilusões, só uma mulher da vida como a vida quis.
A pessoa nasce pro que é!
Tinha montado um site, ia cafetinar virtualmente e queria tornar-se sócia do Marrom Glacê.
   Ney agrada da idéia mas Márcio reluta, diz que vai pensar no assunto. Márcio sente cheiro de lucro há quilômetros e essa história de puta delivery o agradou.  Ja estava mesmo pensando em montar uma filial classe A na BR 153, mas lhe faltava uma figura que soubesse lidar com pessoas de fino trato, como a que estava na sua frente.
  Ney estava radiante coma volta de Iolanda, ops... Debbie, queria contar o que aconteceu em sua ausência, queria saber o que aconteceu com Anselmo, com o casamento, porque ela voltava pra mais antiga das profissões. Ela não diz uma palavra sobre o assunto e pede pra não tocar mais no mesmo.
Renata fica feliz de ver a amiga de volta, não pela amizade mas pelo fracasso do casamento, não se conformava de ver Iolanda feliz, frequentava um terreiro e tinha feito um trabalho pra que a colega não ficasse nem com Anselmo nem com ninguém  e peçonhenta que é, agora se aproxima de Debbie como se fosse suaa melhor amiga.

Anselmo vai atrás de Iolanda mas encontra Debbie em seu lugar... Outra mulher. Mais bela, sensual, elegante, imponente, senhora de sí!
Ele não acredita no que vê, apaixonado, arrependido, a quer de volta, pede perdão, diz que foi culpa do álcool, do pó, do ciúme, do demonio, do amor e que ele jamais seria capaz de fazer o que fez, que isso nunca mais iria acontecer novamente se ela o aceitasse de volta.
Ela olha fixamente no olho de Anselmo por alguns minutos em silêncio absoluto, respira fundo e dá uma cusparada na cara dele!
_ Tenho nojo de você, nunca mais fale comigo, aliás, você matou Iolanda, eu sou outra pessoa, não volte mais aqui ou eu mando meus seguranças acabarem com sua raça,quero ver se você vai fazer com eles o que fez comigo seu covarde!
Anselmo sai escoltado por dois brutamontes dizendo que ela iria pagar pelo que tinha dito e feito!