segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Banda Pó de Ser entre melhores de 2012. Por Eduardo Carli


PÓ DE SER - “De Repente”.  


Batizado com um nome que dá permissão pra experimentar de tudo (e mais um pouco), a banda goiana Pó de Ser faz jus a seu nome com uma música que diz sim às possibilidades novas, às mesclas inéditas. Vale tudo: juntar Itamar Assumpção com Odair José, Tropicália com Sérgio Sampaio, Mutantes com Arrigo Barnabé e enfiar a “viola no rock’n’roll” (como diz outra canção deles, “Bicho Urbano”, um dos melhores retratos de Goiânia compostos nos últimos anos). Como eles mesmos brincaram no papo que tivemos após o show no Vaca Amarela 2012, o Pó de Ser realizou a proeza (dentre outras!) de inventar a “estética dodecafona”. 
Em outros termos: eis aí um experimentalismo tupiniquim aventureiro, sem medo do brega e do excesso, que devora antropofagicamente a música popular brasileira do passado e a recria numa síntese nova. “De Repente”, inspirada canção de Diego de Moraes e Klêuber Garcêz, que integra o recém-lançado EP Tudo Torto em Linha Reta, é a melhor síntese do universo estético do Pó de Ser: é uma pintura do desnorteio que acomete tantos de nós neste princípio de século (“no século 21 sou mais um sem ninguém a me conduzir...”, “entrei num beco-sem-saída, sem porteira nem tramela...”), com versos que descrevem a sensação de ovelha-negra (“desgarrei na contra-mão da boiada...”) e de inquietante insegurança (“lembranças de um tempo remoto em que eu me achava seguro...”).

 

Mas o Pó de Ser não aprecia a sensaboria do porto-seguro nem o comodismo do quietismo: prefere navegar na incerteza, com os olhos estarrecidos, feito um “astronauta liberto na Terra / pé no chão e cabeça na Lua / um andróide de carne e desejo / de pão e poesia, na rua...”. O retrato um tanto sombrio dos “7 bilhões de solitários” que ficam “deixando tudo para depois” parece-me, na verdade, uma conclamação, cheia de urgência, para que o ouvinte faça o que sempre recomendaram os sábios: que viva no presente. Pois pode ser que seja ele, o presente, o único tempo em que o Ser existe, em suas eternas mutações, em seu eterno agora...
http://goianiarocknews.blogspot.com.br/2013/01/os-melhores-de-2012-eduardo-carli.html

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