Iolanda e Ney estavam muito unidos pelo trabalho, o dia era pequeno pros dois já que a noite era longa. Resolveram então alugar uma kitinete ali mesmo pelas redondezas pra ter tempo de criar outros míni espetáculos. Ficava mais barato que pagar o quartinho individual além da companhia que um fazia ao outro, criando assim uma espécie de “lar”.
Ney tinha surtos de depressão, desde que começou a trabalhar na X-Kândalo que ele não fazia programas, atendia ao Márcio com exclusividade e era bem pago pra não ter que vadiar; palavras de Márcio. Porém nunca dormiam juntos, não se assumiam como casal, eram sempre encontros furtivos, porém densos, viscerais, de entrega total! Trocavam msg durante o dia com codinomes no celular. Ney nunca havia experimentado essas sensações, sempre foi muito cortejado por homens, mulheres, mas esses o viam como um pedaço de carne, um criolo bonito, forte, de sorriso largo e traseiro grande. Márcio era doce, gentil, mas no fundo Ney sentia que aquela situação clandestina o diminuía e o fazia sentir como os outros sempre fizeram.
De vez em quando saía sem rumo, entrava no eixo anhanguera e se esfregava nos passageiros que ele sabia ser do babado, descia e trepava nos becos do centro da cidade, nas esquinas escuras perto do mutirama. Depois de consumado se vestia e saia sem sequer dizer o nome, se sentindo sujo, chorando enquanto cuspia palavrões andando á esmo. Voltava pra casa e ficava por horas trancado no banheiro deixando a água cair, enquanto os pensamentos se alinhavam novamente, voltava pra sala e ouvia na vitrola os discos que sua mãe deixou com a avó junto com ele antes de ir pra Portugal pra nunca mais voltar. Lupicínio Rodrigues, Ataulfo Alves, Nelson Gonçalves, Dolores Duran... Ali ouvindo amarguras ele ficava pensando, Deus é um cara gozador, adora brincadeira! Daí a pouco levantava, limpava o rosto com o antebraço e saía pra enfrentar a vida, abstrair de tudo, a noite era sua morada.
Ney agora gerenciava a boate, tratou de mudar a fachada e o nome X-Kândalo que ele achava uó! Rebatizou de “Marrom Glacê”. Do lado da boate havia uma lojinha de discos de Anselmo Amado, um baixinho de voz anazalada muito simpático, falante que sabia de todas as novidades da música brega. Sonhava em ser cantor popular, fazer sucesso e tocar em programas de auditório. Quando as portas da lojinha fechava as da boate abria e lá estava ele, contando do seu sonho pras meninas da casa, ouvindo Odair José na Jukebox, tomava 4 latas de cerveja e vez por outra fazia programa com Iolanda, pra ele uma vedete. Era fiel a puta como um cão ao seu dono!
Ela gostava da companhia dele, sempre falando frases de pára choque de caminhão, ou trechos de musicas cafonas, aquilo pra ela era como se fosse Rimbaut, um homem que a tratava como namorada, coisa que ela nunca teve. Sempre tão carente de amor, que ela as vezes dava a desconhecidos imaginando ser seu homem. Iolanda sonhava em casar e ter filhos, lavar, passar, cozinhar, cuidar do marido. Nunca gostou do que o destino lhe reservou, diferente de Renata, a amiga que lhe apresentou a essa vida. Renata era de classe média, preferiu cair no mundo do que estudar pra medicina como queria a família, era uma morena lindíssima, alta, magra, voluptuosa e totalmente desprovida de romantismos.
Era puta com P maiúsculo, dizia não gostar de repetir rôla, seu tesão era a curiosidade, o desconhecido, o novo. Exímia no pole dance e barraqueira de primeira, uma pomba gira do sertor rodoviário. Nesse universo tão distinto as duas eram grandes amigas, como na canção “meu amigo Pedro” de Raul Seixas, as duas se admiravam nas diferenças, falavam das performances, do tamanho do pau dos clientes, das taras bizarras, das broxadas, das inversões de papéis, mas acima de tudo falavam de si, de suas pequenas alegrias, de suas fantasias, dos desejos e da vida enquanto pintavam as unhas umas das outras.
Era puta com P maiúsculo, dizia não gostar de repetir rôla, seu tesão era a curiosidade, o desconhecido, o novo. Exímia no pole dance e barraqueira de primeira, uma pomba gira do sertor rodoviário. Nesse universo tão distinto as duas eram grandes amigas, como na canção “meu amigo Pedro” de Raul Seixas, as duas se admiravam nas diferenças, falavam das performances, do tamanho do pau dos clientes, das taras bizarras, das broxadas, das inversões de papéis, mas acima de tudo falavam de si, de suas pequenas alegrias, de suas fantasias, dos desejos e da vida enquanto pintavam as unhas umas das outras.
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